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Procedimentos : Sedação consciente inalatória com óxido nitroso/oxigênio

O medo odontológico é um problema mundial e uma barreira universal para a procura de tratamento dental. O medo pode ser adquirido na infância por experiências desagradáveis próprias ou indiretamente por relatos de pais, parentes e conhecidos permanecendo na idade adulta, é agravado por tratamentos traumáticos, falta de confiança e sensação de perda de controle

odontofobia está presente em grande parcela da sociedade, sendo que mais de 40% da população evita procurar atendimento odontológico devido ao medo e ansiedade.

Assim, um dos grandes desafios para a Odontologia moderna é o controle do medo e ansiedade, sentimentos geradores de estresse e, conseqüentemente manifestações adversas de comportamento e alterações sistêmicas potencialmente perigosas. Portanto, o controle destes fenômenos deve nortear o atendimento odontológico, proporcionando real qualidade de atendimento e conforto ao paciente durante o procedimento clínico.

No Brasil o controle farmacológico do estresse e ansiedade em Odontologia pode ser feito através de duas formas: pela administração de medicamentos ansiolíticos por via oral (benzodiazepínicos) ou, mais recentemente, com um “novo” coadjuvante terapêutico, através da utilização da via inalatória com a mistura dos gases óxido nitroso/oxigênio.

Embora recente na Odontologia brasileira, o óxido nitroso (N2O) foi descoberto a cerca de 150 anos atrás, e com ele o alívio da dor e ansiedade durante procedimentos cirúrgicos começou a se tornar possível.

Medo e dor estão sempre inter-relacionados. Estes dois sentimentos apresentam componentes fisiológicos e emocionais, uma vez que com o aumento da dor a ansiedade também aumenta. A influência dos fatores psicológicos sobre a dor também tem sido amplamente demonstrada, como no estudo de Lautch (1971) que observou que quando estimulados, pacientes ansiosos apresentavam um limiar de dor mais baixo do que pacientes em estado normal.

O medo e a ansiedade podem ser identificados na maioria dos pacientes que procuram serviço odontológico, tanto pela observação em seu comportamento quanto pelo reconhecimento de sinais como a dilatação da pupila, palidez, transpiração excessiva, aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca, tremores, tonturas, boca seca, fraqueza, dificuldade respiratória (Andrade, 1999). Grande parte destas manifestações é decorrente da liberação endógena da adrenalina e noradrenalina e ativação do sistema nervoso autônomo simpático, também conhecidas como reações “de fuga” e “luta” (Silverthorn, 2003).

Isto explica a ocorrência de emergências médicas no consultório odontológico como síncopes e desmaios, uma vez que a maioria dos procedimentos odontológicos é potencialmente estressante para os pacientes. Comprovadamente, a incidência de emergências médicas é muito maior em pacientes com ansiedade mal controlada (Andrade & Ranali, 2004).

 

SEDAÇÃO CONSCIENTE

O conceito de sedação consciente difere totalmente da anestesia geral. A sedação consciente é uma depressão mínima do nível de consciência produzida por métodos farmacológicos ou não-farmacológicos (ou sua combinação), onde são mantidos a respiração espontânea, os reflexos protetores e a capacidade de resposta a estímulos físicos e comandos verbais. A anestesia geral é um estado induzido de depressão generalizada do sistema nervoso central, levando à inconsciência, à perda total ou parcial dos reflexos protetores, incapacidade de respiração espontânea (devendo o paciente estar entubado) e incapacidade de resposta a estímulos físicos e comandos verbais (ADA Guidelines, 2003).

Embora a origem do óxido nitroso esteja relacionada à história da anestesia geral, sendo o primeiro gás anestésico descoberto, quando em concentrações adequadas e combinação apropriada com o oxigênio, o óxido nitroso exerce apenas o efeito de sedação.
O óxido nitroso é o gás anestésico de menor potência.

O óxido nitroso é um gás incolor, tem odor e sabor agradáveis, não é inflamável ou irritante, é pouco solúvel no sangue e não se liga a nenhum elemento sanguíneo. Devido a estas propriedades, o óxido nitroso não sofre metabolização no organismo e atinge rápida concentração no cérebro, sendo estas algumas das vantagens em relação ao uso dos benzodiazepínicos. O óxido nitroso também tem o início e término dos efeitos após a remoção do gás extremamente rápidos, cerca de 5 minutos.

Como para qualquer técnica e droga, existem algumas contra-indicações relativas ao uso do gás: pacientes com personalidade compulsiva ou desordens de personalidade, crianças com severos problemas de conduta, claustrofóbicos e respiradores bucais, ou ainda naqueles que se recusam a usar a técnica. Nestes pacientes a escolha da técnica de sedação deve ser ponderada.

A gravidez é uma contra-indicação relativa para qualquer tratamento odontológico eletivo, principal- mente durante o primeiro trimestre. O uso de técnicas farmacológicas para sedação deve ser avaliado com cuidado, pesando riscos e benefícios. Dentre todas as técnicas disponíveis, a sedação inalatória com óxido nitroso e oxigênio é a mais indicada em caso de real necessidade de sedação para gestantes. Embora o gás atravesse rapidamente a barreira placentária, não ocorrem interferências na amplitude e freqüência das contrações uterinas, sendo o óxido nitroso também utilizado para reduzir o desconforto durante o parto (Malamed, 2003)

As contra-indicações consideradas absolutas para o uso da técnica acontecem devido às altas ten- sões de O2 utilizadas. Pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema, bronquite severa) sofrem alterações de sensibilidade em seus quimiorreceptores no controle da respiração. Desta forma, as altas concentrações de O2 fornecidas durante a técnica podem ser interpretadas como um estímulo para a redução da ventilação, podendo causar uma hipóxia grave no paciente. A outra situação em que o O2 utilizado na mistura impossibilita o uso da técnica é em pacientes que passaram por quimioterapia com o agente bleomicina há pelo menos um ano, ocorrendo o risco de desenvolvimento de fibrose pulmonar (Haas, 1999).

Devido ao óxido nitroso não possuir efeitos adversos sobre o fígado, rim, cérebro e sistemas cardiovascular e respiratório, pacientes que requerem cuidados especiais no atendimento odontológico, tais como cardiopatas, diabéticos, hipertensos e asmáticos, dentre outros, desde que em condição clínica controlada para o atendimento odontológico podem ser submetidos à técnica de sedação consciente inalatória com óxido nitroso (Malamed, 2003). Pelo contrário, nestes pacientes o estresse é um fenômeno perigoso e, portanto deve se controlado.

Segundo Bennett (1986), quanto maior for o risco clínico do paciente mais importante se torna o controle eficaz da ansiedade e da dor. Waters (1995) publicou algumas normas de atendimento a pacien- tes com doenças cardiovasculares. Entre suas recomendações está indicada a utilização de métodos ansiolíticos, com especial atenção para a sedação inalatória com óxido nitroso e oxigênio para pacientes com doença isquêmica do miocárdio, uma vez que esses pacientes são amplamente beneficiados com a suplementação de oxigênio (Malamed, 2003). O autor também relata a importância de um adequado controle da dor com uma anestesia local efetiva nesses pacientes.

A sedação inalatória tem ampla aplicação na Odontologia, podendo ser empregada em praticamente todos os procedimentos e em todas as especialidades. Devido à analgesia que o óxido nitroso promove em tecidos moles, a sedação inalatória auxilia na realização de isolamentos absolutos (Foto 5), colocação de matrizes, reduz o desconforto da vibração de brocas durante ajustes oclusais e em raspagens e alisamento radicular.

A sedação inalatória com óxido nitroso e oxigênio é o melhor método para eliminar o desconforto leve a moderado da instrumentação periodontal (Jastak, 1989). Além disso, pode atuar como coadjuvante terapêutico em drenagens de abcessos quando a anestesia local é dificultada pelo baixo pH tecidual (Malamed, 2003).

O uso da sedação inalatória em odontopediatria é vastamente difundido em muitos países e é a primeira opção de sedação para este perfil de pacientes (Houpt et al., 2004) (Foto 6 - odontopediatria). Em casos muito específicos de crianças intensamente ansiosas e não-cooperativas, onde há a necessidade de in- tervenção odontológica.

O uso do óxido nitroso também é importante para o tratamento endodôntico, uma vez que os pacientes freqüentemente procuram esse tipo de tratamento quando estão sentindo dor aguda (Saxen & Newton, 1999). Além disso, como já mencionado anteriormente, a máscara nasal não interfere na colocação do isolamento absoluto.

Cirurgia de Terceiro Molar se faz imprescindível a sedação com óxido nitroso, afim de reduzir o estresse que as histórias contadas por parentes e amigos de dor intensa durante o procedimento vem à cabeça do paciente a ser submetido a esse procedimento, uma vez que lembram apenas de outras histórias contadas. O uso do óxido nitroso por causar ao paciente certa amnésia deixa o procedimento muito mais confortável. 

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